O sangue é composto por diversas substâncias, dentre elas proteínas responsáveis por desencadear uma série de reações químicas em cadeia que terminam na formação de um coágulo para estancar algum sangramento. Essas proteínas são os fatores de coagulação (13, ao todo, numeradas de I a XIII) e são divididas em duas vias de acordo com as reações que promovem: a via extrínseca e a via intrínseca.

O tempo de protrombina (TP ou TAP) e o tempo de tromboplastina parcialmente ativada (TTPa) são exames hematológicos utilizados para avaliar o funcionamento desses fatores envolvidos na coagulação pela via extrínseca e pela via intrínseca, respectivamente, ambos realizados em amostra de plasma descalcificado.

Tubo de coleta à vácuo com anticoagulante citrato de sódio (Fonte: Kasvi).

Para coleta de amostra de plasma é utilizado o tubo com anticoagulante citrato de sódio, pois ele se liga e forma um quelato com o cálcio, interrompendo a casca de coagulação, já que o íon cálcio é necessário para ativação tanto da via intrínseca quanto da via extrínseca. Entretanto, essa ligação é facilmente reversível com adição de mais íons cálcio na amostra, modo pelo qual são realizados os testes de coagulação (TP e TTPa).

A amostra de sangue obtida por punção venosa deverá ser imediatamente centrifugada e o plasma deverá ser retirado posteriormente com cuidado para que as células também não sejam pipetadas. Os testes deverão ser realizados em até 3 horas após centrifugação ou as amostras deverão ser armazenadas a -20 C por 1 semana.

O tempo de protrombina consiste na medição do tempo de coagulação a partir da adição de tromboplastina (fator III ou fator tissular) e de cálcio a um tubo com a amostra de plasma oriunda do tubo de citrato. Isso desencadeia a ativação do fator VII, que por sua vez promoverá a ativação do fator IX e do fator X. O fator X formará um complexo com os fosfolipídeos do fator tissular na presença do cálcio, convertendo a protrombina em trombina. A trombina irá então atuar sobre o fibrinogênio, transformando-o em fibrina, que atua como uma rede para formação do coágulo.

O aumento do tempo de atividade da protrombina é um indicador de algum distúrbio envolvendo os fatores da via extrínseca ou comum da coagulação, podendo ser causado por deficiências congênitas, por lesão hepatocelular ou por carência de vitamina de K. Já a redução do tempo de atividade da protrombina pode ser observada em pacientes em uso de vitamina K, de anti-histamínicos, cafeína e fenobarbital. Amostras lipêmicas, uso de contraceptivos orais e corticosteroides e plasma com heparina, varfarina e EDTA também são interferentes para o exame.

O reagente formador de coágulo utilizado nos testes anteriormente costumava ser produzido a partir de tecido humano, mas com o tempo foram substituídos por reagentes de tecido animal, como extrato de cérebro de coelho. A não padronização da origem dos reagentes acarretou sérios problemas aos pacientes, visto que como cada laboratório utilizava reagentes de sensibilidades diferentes, os resultados variavam bastante entre um e outro.

Diante disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) uniformizou os resultados de TP a partir da Relação Normatizada Internacional (RNI), que considera o valor de TP obtido com o exame, a média dos valores normais de TP, obtida em laboratório padronizado, e o índice internacional de sensibilidade (IIS), específico para cada reagente e fornecido pelos próprios fabricantes.

Relação Normatizada Internacional para uniformização de resultados do tempo de ativação da protrombina (Fonte: Kasvi).

Outro exame, o tempo de tromboplastina parcialmente ativada, corresponde ao tempo gasto para ocorrer a coagulação do plasma recalcificado em presença de cefalina, que irá atuar em substituição às plaquetas, na presença de um ativador (p. ex.: ácido elágico). Por esse motivo, o TTPa é utilizada na coagulometria do plasma pobre em plaquetas (PPP), sendo  útil  na  monitoração  da terapia com heparina e para verificar a deficiência  de todos os fatores da coagulação, exceto fator VII.

Isso porque a cefalina é um fosfolipídeo extraído de tecido cerebral de maneira similiar à tromboplastina, com o intuito de substituí-la no TTPa, visto que a cefalina não possui atividade de fator tissular e, portanto, não é capaz de ativar o fator VII (da via extrínseca), sendo por isso chamada de tromboplastina parcialmente ativada.

O TTPa estará aumentado quando o paciente tiver deficiência de fatores da via intrínseca e de fatores da via comum da cascata da coagulação. É o caso de pacientes com hemofilias A e B, doenças hepáticas, uso de anticoagulantes e deficiência de vitamina K, uma vez que os fatores II, IX e X dependem desta vitamina.

Vias extrínseca e intrínseca da cascata de coagulação (Fonte: CenterLab).

Categories:

No responses yet

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *