A hanseníase é uma doença crônica e infectocontagiosa ocasionada pelo Mycobacterium leprae (M. Leprae), um bacilo álcool-ácido resistente, fracamente gram-positivo, que acomete a pele, influenciando lesões, e os nervos periféricos, gerando, assim, deformidades e incapacidades. Dentre estas, o déficit funcional mais característico da neuropatia da hanseníase, sendo também considerado um sinal cardinal do diagnóstico, é a perda da
sensibilidade como consequência da alteração na integridade dos nervos e das finas terminações nervosas da pele.

Pode-se classificar a doença em quatro formas clínicas a partir do tipo de resposta imunológica contra o agente etiológico: hanseníases indeterminada, tuberculóide, dimorfa (bordeline) e virchowiana, sendo mais branda a primeira e mais grave a última.

Quanto ao diagnóstico, alguns testes pouco invasivos são utilizados, os chamados exames dermatoneurológicos ou testes de sensibilidade. Três tipos destes são descritos no Guia Prático de Hanseníase do Ministério da Saúde e surgem como instrumentos fundamentais no rastreamento da doença e no diagnóstico precoce (fase de hanseníase indeterminada), são eles: testes da sensibilidade térmica, da sensibilidade dolorosa e da sensibilidade tátil. O primeiro destes utiliza como base a reação de resposta do paciente ao entrar em contato com instrumentos de diferentes temperaturas. Para a realização deste exame, geralmente, utilizam-se 2 tubos de ensaio, sendo um com água quente e outro com água em temperatura ambiente. Ambos são aplicados, aleatoriamente, sobre a pele do paciente, por um tempo médio de 2 segundos, seguido pelo questionamento sobre a sua sensibilidade. No entanto, essa técnica não permite a mensuração do grau de hipoestesia (diminuição da sensibilidade) por não possuir caráter quantitativo, e, além disso, não oferece muita confiabilidade, pois não se tem o controle da temperatura do líquido utilizado. Para garantir essa diferença térmica, é necessária a utilização de instrumentos adequados, como o Thermal Sensation Tester. Enquanto isso, o teste de sensibilidade dolorosa consiste na imposição de objetos pontiagudos e não pontiagudos, alternadamente, sob a pele do paciente com a finalidade de verificar manifestações de dor ou quadros de insensibilidade (anestesia)/hipoestesia. Dois pontos negativos desse teste são a impossibilidade da mensuração quantitativa do grau de sensibilidade, assim como o anterior, e a falta de instrumentos que padronizem a intensidade da imposição do objetos durante a realização do teste, dado que varia de examinador para examinador, o que prejudica a confiabilidade do resultado. O terceiro teste de sensibilidade é o tátil, que utiliza como base a capacidade de sensibilidade do paciente para distinguir objetos, como algodão, fio dental e monofilamentos (verde e espessuras maiores) de um kit estesiométrico. Esse último permite a análise da sensibilidade protetora, possuindo grande aplicação na avaliação do grau de incapacidade física. O texto de sensibilidade tátil é o terceiro a ser realizado, pois é, frequentemente, a última a ser perdida.

Fonte: Guia Prático de Hanseníase, Ministério da Saúde
Fonte: Guia Prático de Hanseníase, Ministério da Saúde

Segundo o Ministério da Saúde, confirma-se o diagnóstico de hanseníase apenas com alteração notada em um dos testes de sensibilidade, sendo, desse modo, necessária a realização dos demais apenas em casos de dúvida ou confirmação, dado que a perda de sensibilidade pode ser advinda de outros fatores. Para complementar os testes de sensibilidade, realiza-se, consoante a estes, uma avaliação da função neural, no qual utiliza-se um formulário validado de Avaliação Neurológica Simplificada. Esse exame inclui o histórico do paciente, uma inspeção funcional de nervos da face, dos braços e pernas e uma avaliação sensitiva manual (mãos e pés), possibilitando, então, classificar o grau de incapacidade física. Por fim, esse procedimento, além de essencial no diagnóstico, é muito importante no durante e após o tratamento.

Escrito por: Leones Fernandes Evangelista

Referências bibliográficas:

ANDREAZZI, Amanda Letícia J. et al. Hanseníase: avaliação da
sensibilidade com os monofilamentos de semmes Weinstein. Vila Alta: UNISALESIANO, 2007.

BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes para vigilância, atenção e
eliminação da Hanseníase como problema de saúde pública: manual técnico-operacional, Brasília, DF, 2016.

BRASIL. Ministério da Saúde. Guia Prático de Hanseníase, Brasília, DF, 2017. Disponível em:<http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2017/novembro/22/GuiaPratico-de-Hanseniase-WEB.pdf>. Acesso em: 24 set. 2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Hanseníase: o que é, causas, sinais e sintomas, tratamento, diagnóstico e prevenção. Disponível em: <http://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/hanseniase>. Acesso em: 24 set. 2020.

CAMARGO, Lucia Helena Soares; BACCARELLI, Rosemari. Avaliação
sensitiva na neuropatia hansênica. Duerksen F, Virmond M. Cirurgia
Reparadora e Reabilitação em Hanseníase, p. 75-81, 1997.

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