A LAAC-UFC trás neste texto a classificação dos lipídeos e das lipoproteínas, e a explicação dos meios para sua dosagem além da importância clínica disso para o diagnóstico de dislipidemias.

Lipídeos são compostos solúveis em solventes orgânicos e insolúveis em água. São formados principalmente por ligações C – H, apolares, e, em geral, são subdivididos em seis grandes grupos dependendo da estrutura química: (1) colesterol, (2) ácidos graxos, (3) glicerídeos, (4) esfingolipídios, (5) prostaglandinas e (6) terpenos.

Classificação

  • Colesterol é um álcool esteroide tetracíclico encontrado quase exclusivamente em animais e com características anfipáticas. Pode ser obtido pela dieta ou sintetizado pelo fígado. É um componente fundamental de membranas celulares e importante para a síntese de hormônios sexuais, de sais biliares e de vitamina D. 
  • Ácidos graxos são ácidos carboxílicos formados por longas cadeias carbônicas, saturadas ou insaturadas. Juntamente às proteínas e à glicose, são suscetíveis à oxidação e uma das principais fontes de energia para o corpo.
  • Glicerídeos são compostos formados por ácidos graxos ligados ao glicerol. Dessa forma, os glicerídeos são classificados em mono, di e triglicerídeos de acordo com o número de ácidos graxos ligados ao glicerol. Os triglicerídeos constituem 95% do armazenamento de gordura no corpo.
  • Esfingolipídios são lipídeos derivados da esfingosina que compõem membranas celulares e formam a bainha de mielina em tono do axônio de alguns neurônios.
  • Prostaglandinas são lipídeos derivados do ácido araquidônico, assim como os tromboxanos e os leucotrienos, e têm ação hormonal.
  • Terpenos são polímeros do isopreno e incluem as vitaminas lipossolúveis A, E e K.

Por serem apolares e, portanto, insolúveis no plasma sanguíneo, os lipídeos sintetizados no fígado ou absorvidos pelo intestino são transportados em complexos macromoleculares chamados de lipoproteínas. De maneira geral, são partículas esféricas com lipídeos apolares (triglicerídeos e ésteres de colesterol) concentrados no centro e lipídeos anfipáticos polares (fosfolipídeos e colesterol livre) espalhados pela superfície. Incrustadas na superfície também são encontradas proteínas específicas chamadas de apolipoproteínas (tipos A, B, C e E), responsáveis por manter a integridade estrutural das lipoproteínas, modular a atividade enzimática sobre as lipoproteínas ou por se ligar a receptores de membrana celular para promover a absorção das lipoproteínas pelas células. 

As lipoproteínas são classificadas de acordo com a proporção do conteúdo lipídico e proteico, o que lhes confere diferentes propriedades físico-químicas. Em geral, as lipoproteínas maiores têm mais lipídeos, triglicerídeos e ésteres de colesterol e são mais leves em densidade, possuindo menor quantidade de proteínas. Assim, as lipoproteínas são classificadas em (1) Quilomícrons, (2) lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL), (3) lipoproteínas de baixa densidade (LDL), lipoproteínas de alta densidade (HDL) e lipoproteína tipo A. 

Diagnóstico

Os lipídeos básicos dosados em laboratório incluem colesterol total, HDL, LDL e triglicerídeos a partir de métodos enzimáticos que levam a produção de cromógenos, cujas concentrações podem ser determinadas por espectrofotometria. 

A análise pode ser realizada em amostras de soro ou plasma, mas compostos coloridos ou que competem com as reações de oxidação durante o processo podem interferir, como, por exemplo, bilirrubina, ácido ascórbico e hemoglobina. Por essa razão, comumente opta-se pela amostra de soro. 

Na dosagem do colesterol, o éster de colesterol é hidrolisado em ácido graxo e colesterol livre. Em seguida, o colesterol é oxidado em uma cetona, com formação de H2O2, que é medido em reação catalisada por peroxidase que forma uma pigmentação colorida. Na dosagem de triglicerídeos, o triglicerídeo é hidrolisado à ácidos graxos e glicerol pela lipase e o glicerol é fosforilado pela glicerol quinase, com gasto de ATP. O glicerol é então fosforilado é oxidado em uma cetona, com formação de H2O2, que é medido em reação catalisada por peroxidase que forma uma pigmentação colorida. 

A dosagem de HDL comumente se dá por meio da determinação do colesterol a partir da precipitação das lipoproteínas não HDL (VLDL, IDL, LDL e Quilomícrons). Essas lipoproteínas de baixa densidade são carregadas positivamente e reagem com poliânions, como sulfato de heparina, obtendo-se formação de precipitado, e essa reação pode ser facilitada na presença de cátions bivalentes, como o Mg2+. O precipitado é então removido por centrifugação e o colesterol é medido enzimaticamente no sobrenadante. O HDL também pode ser determinado diretamente, por ensaios chamados de homogêneos, sem a necessidade de separação física da fração não HDL, que é mascarada por meio do consumo do colesterol das lipoproteínas de baixa densidade, o que ocorre através de anticorpos, polímeros ou agentes complexantes, que reagem com o colesterol da fração não HDL e o impede de reagir com as enzimas para medição do colesterol. 

O LDL pode ser determinado indiretamente por meio da equação de Friedewald: colesterol LDL = [colesterol total] – [colesterol HDL] – [colesterol VLDL], onde todas as concentrações são dadas em mg/dL. Em razão da dificuldade em se determinar diretamente o colesterol VLDL, utiliza-se o fator que estima a concentração do colesterol nessa lipoproteína com base na sua proporção com a concentração de triglicerídeos, que é igual a [triglicerídeos]/5. No entanto, esse fator não fornece uma estimativa precisa do colesterol VLDL quando a as amostras apresentarem concentrações de triglicerídeos maiores do que 400 mg/dL ou grandes quantidades de quilomícrons (amostras sem jejum). 

Assim como o HDL, o LDL também pode ser determinado diretamente e, em geral, emprega-se a técnica de betaquantificação, que utiliza plasma com anticoagulante (EDTA) e se baseia na ultracentrifugação e precipitação com poliânions, restando basicamente HDL e LDL na fase líquida. 

Os ensaios imunoturbidimétricos e imunofelométricos em geral são utilizados na medição de apolipoproteínas, mas, alternativamente, radioimuensaios e ELISA são testes mais adequados para apolipoproteínas em baixas concentrações, como apo C-I e apo C-II. 

Importância Clínica

A dosagem de lipídeos é importante para o diagnóstico de doenças cardíacas ocasionadas por distúrbios da concentração sanguínea de colesterol e outros lipídeos, conhecidos como dilipidemias. A aterosclerose, acúmulo de gordura na parede de artérias causando obstrução, é um processo patogênico que pode levar anos para se desenvolver e começar a apresentar manifestações clínicas. Dessa forma, as dosagens de lipídeos e de lipoproteínas são fundamentais para a prevenção de doenças cardiovasculares em pacientes de risco.

Referência:

TIETZ, Funamentos de Química Clínica e Diagnóstico Molecular. [editoria] Carl A. Burtis, David E. Bruns; Tradução: Francisco Sandro Menezes – 7ª Ed. Rio de Janeiro, RJ. Elsevier, 2016.d

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