Exames Laboratoriais do Pré-Natal

O pré-natal faz parte da atenção básica à saúde e compreende o acompanhamento laboratorial da gestante desde o início da gravidez até o parto, incluindo a prevenção e a promoção da saúde. Durante a gravidez, a anemia pode ser sugerida pelo hemograma a partir da diminuição do hematócrito (hemodiluição), devido à tendência de gestantes reterem líquidos e o volume plasmático aumentar em uma proporção maior do que a atividade eritropoietica da medula óssea. 

A OMS e as sociedades americanas de Ginecologia e Obstetrícia definem anemia gestacional a partir dos seguintes níveis de hemoglobina: Hb < 11 g/dL, durante o primeiro trimestre de gravidez; Hb < 10,5 g/dL, durante o segundo trimestre de gravidez; e Hb < 11 g/dL, durante o terceiro trimestre de gravidez. A anemia ocorre em aproximadamente um terço das mulheres durante o período gestacional, geralmente por deficiência de ferro ou de ácido fólico, cujas demandas aumentam consideravelmente em pacientes grávidas em relação às mulheres saudáveis que não são gestantes. Nas anemias microcíticas, após uma contagem reduzida de eritrócitos, segue-se a dosagem de ferritina sérica ou uma eletroforese de hemoglobinas para avaliar, respectivamente, a deficiência de ferro ou a possibilidade de hemoglobinopatias. 

Nas anemias macrocíticas, a avaliação é feita pela dosagem de ácido fólico e de vitamina B12, já para anemias de causas mistas, é necessária avaliação para ambos os tipos. Durante o pré-natal, realiza-se a tipagem sanguínea para verificar a compatibilidade entre mãe e feto, uma vez que mulheres Rh negativo grávidas de bebês Rh positivo produzem anticorpos anti-Rh após o parto, quando os sangues se misturam e o sistema imune da mãe reconhece o fator Rh como um agente estranho, desenvolvendo uma resposta imunológica contra ele, de modo que em uma segunda gravidez em que o bebê apresente Rh positivo o próprio sistema imune da mãe ataca o feto, gerando a complicação conhecida como eritroblastose fetal. Laboratorialmente, realiza-se o Teste de Coombs Indireto, com a amostra de sangue materno, para verificar a presença de anticorpos IgG contra antígenos eritrócitos fetais, comumente antígenos Rh D, A e B, no soro da mãe. No teste, a amostra é incubada com hemácias sensibilizadas in vitro e se adiciona o soro de Coombs (com anti-IgG humana) para amplificar a reação de aglutinação em caso de resultado positivo. Também pode ser realizado o Teste de Coombs Direto com o sangue do cordão umbilical, onde nesse caso as hemácias do bebê são testadas com o soro de Coombs (anti-IgG humana) para verificar a presença de anticorpos ligados a elas. O exame deve ser realizado no primeiro trimestre da gravidez, e toda gestante com fator Rh negativo que está grávida de um bebê com fator Rh positivo deve receber injeção de imunoglobulina no terceiro trimestre e dentro das primeiras 72 horas após o parto, de forma a impedir que seu sistema imunológico produza anticorpos permanentes contra o fator Rh. Já as gestantes Rh positivo não precisam se preocupar com esse tipo de complicação durante a gravidez.

Além disso, a colpocitologia oncótica (exame de Papanicolau) para rastreio de câncer de colo de útero deve ser realizada como de rotina nas gestantes cujo último exame tenha ocorrido há mais de três anos com resultado negativo para neoplasia. A dosagem da glicemia no pré-natal serve para o rastreio da diabetes mellitus gestacional, devendo ser realizado no primeiro e no terceiro trimestre de gravidez. Para não submeter a gestante a uma dose excessiva no Teste de Tolerância Oral à Glicose, realiza-se incialmente um teste de triagem (glicemia em jejum) com uma sobrecarga de 50 g de glicose. Após uma hora, se a glicemia da gestante estiver abaixo de 140 mg/dL não é necessário realizar o teste completo, se estiver entre 140 e 200 mg/dL a gestante precisa retornar ao laboratório em um segundo dia para realizar o teste completo e, se estiver acima de 200 mg/dL a paciente é diagnosticada com diabetes gestacional.

No teste completo, após uma sobrecarga de 100 g, realiza-se três dosagens de glicemia de hora em hora, com concentrações de referência de 180, 155 e 140 mg/dL, respectivamente. Nesse caso, o diagnóstico de diabetes gestacional se dá quando dois desses limites foram atingidos ou ultrapassados. Realizada nos três trimestres de gravidez, o exame de urina é recomendado para detectar uma eventual infecção urinária e a presença de proteínas que podem indicar tendência a desenvolver pré-eclâmpsia. Dois exames de urina fazem parte da avaliação básica do pré-natal:  EAS (Elementos Anormais de Sedimentoscopia) e a urocultura. O EAS avalia a eliminação de sangue ou de leucócitos, um indicativo de inflamação do trato urinário, em especial infecção urinária, ou proteínas na urina, que podem indicar pré-eclâmpsia a partir do terceiro trimestre de gravidez. A urocultura é um exame específico para infecções bacterianas, a fim de se identificar o patógeno. 

Outro ponto importante do pré-natal é o rastreio de doenças infecciosas que possam causar complicações no curso da gravidez. Infecções, como toxoplasmose, rubéola, sífilis, herpes, HIV, hepatite etc., se adquiridas durante a gravidez, podem provocar aborto, parto prematuro e má formações no bebê. Dosagens de anticorpos IgM ou IgG podem indicar infecções recentes ou regressas, respectivamente

Escrito por: Igor Moreira de Almeida